Hoje no caminho para casa apeteceu-me ser outra pessoa.
Apeteceu-me ser alguem que não eu, ser diferente.
Apeteceu-me cortar o cabelo radicalmente e pinta-lo de azul, verde ou rosa choque. Apeteceu-me saltar de para-quedas. Apeteceu-me fazer um piercing na língua e tatuar o simbolo do diabo nas costas. Apeteceu-me desaparcer e deixar todos preocupados comigo. Apeteceu-me desligar o telemóvel durantes dias e não dar notícias a ninguém. Apeteceu-me ser freira. Apeteceu-me ignorar as minhas obrigações todas e fazer só aquilo que realmente me apetece. Apeteceu-me ter uma doença terminal, contar os dias para a minha morte, fazer tudo à pressa, e deixar todos a chorar por mim. Apeteceu-me ser famosa, protagonizar o escandalo do século, e ser capa de revistas e jornais, abertura dos notiaciários e notícia de radio , nos quatro cantos do mundo.
Apeteceu-me ser emo. Apeteceu-me ser drogada e beber até não me segurar de pé.
Apeteceu-me chorar. Apeteceu-me receber uma manifestação de amor e afecto. Apeteceu-me tirar um 20 num teste. Apeteceu-me ser injusta com o mundo. Apeteceu-me cometer uma loucura. Apeteceu-me ser rica, ter uma casa de luxo e com piscina. Apeteceu-me ser de outro país, e de outra religião. Apeteceu-me abrir a porta e sentir-me a entrar em casa.
Apeteceu-me arder numa fogueira. Apeteceu-me afugar no mar. Apeteceu-me deixar todos e todas com ciumes de mim. Apeteceu-me sair sozinha e conhecer o mundo. Apeteceu-me ser melhor. Apeteceu-me que as pessoas fossem verdadeiras e sinceras comigo. Apeteceu-me olhar a lua, deitada na areia da praia. Apeteceu-me conhecer o céu. Apeteceu-me (tanto) voltar a ser criança. Apeteceu-me gastar uma fortuna em sapatilhas e sapatos. Apeteceu-me renovar o guarda-roupa. Apeteceu-me assaltar uma loja de doces. Apeteceu-me sentir amor da parte de alguém. Apeteceu-me que alguém senti-se a minha falta. Apeteceu-me ser mais magra e mais alta. Apeteceu-me sair de casa na maior tempestade. Apeteceu-me ir para um sítio desconhecido. Apeteceu-me entrar num carro, e ir sem destino. Apeteceu-me ser o sol, a chuva, a noite e o dia. Apeteceu-me dar o meu corpo a alguém. Apeteceu-me arriscar. Apeteceu-me fazer algo de grandioso. Apeteceu-me não ser fraca nem frágil.
Apeteceu-me ter coragem para fazer alguma destas coisas.
Apeteceu-me ir e nunca mais voltar.
Apeteceu-me entrar e nunca mais sair.
Apeteceu-me adormecer e nunca mais acordar.
E no final de tudo, só consegui chorar.
2 comentários:
És uma menina de muitos apetites, Anusca.
Adorei.
Deixa lá Ana... Somos todos iguais :)
Já me aconteceu isso tantas vezes, mas sabes que mais é bom sentir tudo isso as vezes. É dai que começa a crescer a coragem para o futuro :)
Beijinhos*
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