Porquê que eu não posso fazer magia e entender o que vai na cabeça das pessoas? Tenho sempre que adivinhar e deixar que a sorte decida o que acontece a seguir. Não chega a ser cansativo, depois de algum tempo?
É, chega. Mas não se pode fazer nada. Nem eu, nem o mundo. Não há magia. Há sortes, azares e destinos, e só me cabe esperar que o tempo decida para que lado vou, o que vou fazer. Porquê? Não sei, mas há de sempre ser assim.
Eu acho que as pessoas deviam poder mandar no coração. Escolher o que sentir, e só sentir no momento certo. Assim já não tinhamos que esperar e ter sorte! Porque no fundo é o que nos acontece: esperamos por alguma coisa, e como estamos dependentes de alguém, rezamos. Pedimos por tudo para o que queremos aconteça, para que corra tudo pela melhor maneira. Que não nos desiludam nem nos magoem outra vez, porque temos a certeza que não aguentamos mais uma desilusão. E as coisas acontecem. E se não nos preparamos logo de inicio para o pior, acabamos mesmo por sofrer outra desilusão. Que doi mais do que a anterior, porque é sempre assim. Todas as vezes que nos abrem uma ferida no coração, por mais rápido que ela cure, a próxima vai sempre doer mais, porque o nosso coração é molinho e não vai aguentar estas coisas para sempre. Por isso, tentamos sempre ir com cuidado, devagar e cheias de medo, e como não há principes encantados nem amores para sempre, somos automaticamente obrigados a, ao fim de algum tempo, sofrer outra desilusão. Por mais que não quisessemos, por mais que tenhamos lutado para isso não acontecer, por mais que nos tenham prometido o mundo: isso vai mesmo acontecer. Não importa o motivo, nem se ele é grande como o mundo ou pequeno como um grão de areia, isso vai mesmo acontecer. Não adianta achar que desta vez vai ser melhor, que confiamos cegamente em alguém e que sabemos que não nos vai magoar. Mas vai, pode ate ser sem intenção, mas vai.
Até nós, aquele grupo de pessoas que pensa nos outros antes de pensarmos em nós magoamos alguém, sem querer. E não é preciso grande coisa. Ás vezes, e a maior parte das vezes, o que acontece é que recebemos uma resposta estúpida a uma mensagem, ou não recebemos mesmo, recebemos um olhar mais frio, uma palavra mais dura, uma atitude menos querida, e essas pequenas coisas chegam para abalar o nosso mundo. Chegam para por todo no chão, e virar tudo de pernas para o ar, e para nos fazer duvidar de tudo, de todos e de nós próprios. Chegam para pormos em causa o que sentimos por alguém e o que esse alguém sente por nós. E depois, como a matemática do coração não é uma ciência exacta começamos a perder a vontade, a paciência, e se continuamos constantemente a ver o mundo a ser posto de pantanas por alguém que para nós significa o mundo, vamos começar a perder o amor. Porque por maior que seja o amor, ninguém quer viver de pernas para o ar a vida toda, não é verdade?
E perder o amor não é pêra doce. Afinal, no inicio era tudo bom e bonito. Houveram muitos momentos que nos fizeram felizes, que queremos guardar para sempre na nossa memória e que gostávamos de repetir. Haviam beijinhos, mão dadas e gargalhadas a todo o momento, havia uma vontade louca de se amar, quase como se não houvesse amanhã. E perder toda essa magia não é fácil. Por isso é que eu acho que todos devíamos poder mandar no nosso coração, e poder ler a mente das pessoas. Assim sabíamos a sério quais são as intenções dos outros connosco, e só quando tivéssemos certezas é que deixávamos o nosso coração bater, acelerado e descontrolado, a transbordar de amor e sem a mínima possibilidade de tempos depois termos o nosso mundo todo arruinado, outra vez.
E por achar que acredito de mais nas pessoas é que estou a escrever estas coisas. E por achar que confiei de mais em alguém é que não quero que nada disto aconteça. Não quero mais lágrimas, nem gritos, nem coisas que me magoam demasiado, porque tudo o que eu queria, quero e ei de continuar a querer é o nosso amor. É amar-te e que me ames, como sempre fizemos. Sem perder nada, nenhum amor, nenhuma magia, nenhum sentimento, nenhum minuto, nenhum sorriso. Afinal, o verdadeiro amor suporta tudo, não é?